barrinhas

segunda-feira, julho 7

Poema

Poema escrito em
letras tortas
caneta fraca
pulso sem firmeza
Sinal de poema leve
que escorrega do coração
até a ponta dos dedos
Leveza que o vento sopra no papel
e vira cor, desenho, flor
E num tufão de metáforas que jorram
da tinta e do sangue
Misturo sentimentos, verdades
e doces mentiras
Para transformar o meu traço
numa nuvem de poesia

quinta-feira, maio 15

Quando a Lua sopra

É o verso preso na garganta
e o tempo que insiste em bater
descompassando toda essa dança
e o peito louco a arder

meu jeito, meus passos, meus olhos
não seguem o que antes seguiam
são palavras cravadas nos ossos
e sem perceber novos sonhos surgiam

nasciam rasgando a pele
brotavam salvando a carne
saltavam pra onde eu não via
corriam com medo do alarde

pari um ser que gestava
um ciclo infinito de seres
um eu de outro eu que restava
se abraçando no tempo
se perdendo no espaço

de nós eu fiz laços
de fitas fiz traços
de mim fiz retalhos
pro manto do dia

quarta-feira, março 12

Plongée

Quem no olhar muito diz
é como eterno aprendiz
pega semente
pá lavra
Pois dizendo se foge do fato
que no momento exato
já não existe mais
que tanto repete verdades
tornando-as inverdades
soltando-as do óbvio, lógico e claro
o intraduzível se faz tocável
pois o ser carrega o universo que é
Um grão de areia ocupando o espaço


*Pensado e escrito com Victor Cardoso*

sábado, março 8

-Ilha

No meu centro
abri os braços
tentando alcançar
de norte a sul
teu eixo.
Entre curvas
e retas
mesclei teu verde
e me fiz imensamente
azul.
Brotei cigarra
cantei primavera.

segunda-feira, março 3

Memória futura

O tempo que passa opaco
frente às minhas velhas retinas da alma
traz à tona saudades antigas
que correm vermelhas
como o rio correu um dia
Sangrando numa baía qualquer
sonhos
desejos
e doces
que penetraram minhas vidas
latejam canções
em meus ouvidos cansados
buscando no vento
rogando o alto
os velhos sons suaves
dos sinos
marcando a sina
da minha busca
Os sopros das vozes
que correm as esquinas
dessas casas velhas
rasgam meu nome
na esperança da minha volta
Desejo apenas um gole farto de poesia
para adocicar o coração
das almas que vagam sem direção


Pois 
se não fossem 
os doces
e a poesia
que cor teria 
a vida?

quarta-feira, fevereiro 26

Aonde começa o giro de um caracol? Seria o mesmo uma metáfora da vida?

Resolvi nascer

Parto normal e dolorido
breve proposta da vida se mostrando.
Apenas uma introdução
para depois requerir
um novo pedido de abertura
Primeiro
as pernas
Depois
o peito

O simples fato de enxergar
já inicia a minha chegada
Ver tudo como uma primeira vez
Cheia de consciência
Digo: C O N S C I Ê N C IA
Não o ingênuo conhecimento
limitado e egocêntrico do homem.

Minha primeira experiência com
"primeiras coisas vistas"
foi um caracol

Em uma lembrança
de minha querida infância
Encontrei um caracol.
Sua gosma ainda fresca no chão
me levou ao seu esconderijo.
Com aquele gostinho de curiosidade
instintivamente o toquei
e ele me transmitiu ali naquele instante
sua imensa sabedoria

Aprendi com sua pressa
a encaracolar a vida
Tudo no seu tempo

Tudo no tempo das lesmas é sagrado...
 

sexta-feira, fevereiro 21

Do teu ao meu

Sinto o flamejar
do teu corpo ao meu
o calor nos percorrendo
nos fundindo, acariciando

Com nossa saliva
apagamos nossa chama
invadimos dimensões 
desconhecidas

Alcançamos o mais alto pilar
que aponta o Sol
Pontes se formando
do teu olhar ao meu

Atravesso sem medo
mesmo vendo que a mesma 
se encontra presa
a um fio

Salto e a gravidade não me assusta
Abro os braços
abraçando o mundo
com meu coração alado

Pulso 
no mesmo batimento
que emerge da terra
Canto no tom dos pássaros

Enfervecida
percorro o perigo
em busca do teu abrigo

terça-feira, fevereiro 18

Cessar

Fico pensando se a cada palavra que eu dissesse
uma árvore nascesse
um amor brotasse
quanto que o que eu queria ser eu fosse
quanto o que já se foi voltasse
tudo o que na minha língua nasce
é porque fui na corrente que tu emanastes
fui pra ver o que sentiria se a flor florescesse
se o sol morresse
e nunca mais voltasse
fui porque de mim fostes
fui para que poema eu virasse...

segunda-feira, fevereiro 17

Se(r)mente

Não quero flores ao morrer
não suportaria a ideia de outros cadáveres sobre o meu
quero a oportunidade de renascer
em árvores
quero eternizar meu cheiro entre as matas
e brotar em cada primavera
quero que em cima do que eu deixar nessa terra
brotem lindos tons de verde
que borboletas façam casulo alí
assim
quando eu olhar lá de cima a lembrança do que fui
sentirei o doce encanto de me enxergar mais viva
mais completa
mais dança
mais vento
mais som
mais do que pude ser

sábado, fevereiro 15

A.cor.da

Eu tenho a cor do sol que bate em minha pele
A cor da lua que reflete meu olhar
Em mim o reflexo dos homens que choram
e a sabedoria que transforma dores em canções
Cabe aqui em meu ser a chama que arde no seio das mães

Depois do vazio que afaga
Sou a saudade que sopra na ausência do sentimento de uno
repleta de sonhos do mundo
Me completo com furtas cores


                             acordo horizonte.

quarta-feira, fevereiro 5

Vontade laranja


Alaranjada seja
toda saudade disfarçada de medo
todo aperto que sangra meu peito

Alaranjando estou
agora quando adormeço
longe dos teus seios
me despeço do meu andor

Já estando assim
fim de tarde
fim de dia
anoiteço em mim
Com sede do teu suco
teu toque
teu sabor
laranja

terça-feira, fevereiro 4

Odoiá

Se queres me elogiar
me chame água
se queres me ver sorrindo
assim, rio.

Lhe peço apenas que venha 
pular minhas ondas
com tua alegria de criança
Pois quero desaguar em teus cabelos
e molhar teus olhos pérolas
Com um manto azul de conchas
te cobrirei ao entardecer
para sentires, assim como eu
o Sol tocando em teu corpo
e vibrando com suavidade
na chegada da Lua.

Te ninarei no vai e vem do meu dançar
dia e noite terás o mar dentro de ti
pra poder num salto alcançar
a delicadeza dos astros.

quinta-feira, janeiro 23

Busca

Em meio a incessantes pensamentos
Busco de algum forma silenciar

As marcas do tempo gritam através de minha pele
Arranho as paredes da memória
tentando encontrar os tesouros escondidos
no baú das lembranças

Sinto o peito arder
Sinto a pele em brasa

Em mim, restaram sonhos
distantes de motivos aparentes.
Ainda os grilos da minha infância
vibram em minha essência

Ziguezagueando a agulha do tempo
aos poucos vou costurando
a manta do entendimento