barrinhas

sábado, novembro 27

mudas lembranças

em uma escuridão
onde não consigo tatear nada.
meus pés procuram o chão
meu corpo só precisa de um afago

a minha esperança é incomparável
fico esperando um abraço perdido
uma mão para segurar a minha
e mostrar que ainda existe um claro

tento ouvir
mas tudo o que me resta é
o barulho do silêncio
ecoando na minha mente

se eu ao menos lembrasse
por onde eu entrei aqui
se a porta ainda estivesse aberta
talvez eu pudesse voltar...

"obscuro, escuro, claro... é um trem de metrô"

sexta-feira, novembro 26

nada do que sei

Hoje quando eu te abracei eu senti uma imensa vontade de chorar. Uma daquelas vontades que se você realiza-las sentirá a alma mais leve, o coração mais solto e o corpo mais brando.
Sabe como é difícil pra mim aceitar o fato de que eu não possa mais poder ver um futuro? Um futuro que eu tanto planejei, que eu tanto esperei...
É que esse tempo todo eu menti pra mim mesma. Assim como eu venho mentindo a minha vida inteira.
Mentir e viver são dois fatores que não sobrevivem um sem o outro.
Eu menti quando escondia os doces na gaveta e menti quando escondi de mim mesma os doces e prazeres que a vida me trouxe.
Eu criei uma grande mentira que agora a vejo em uma proporção indomável... me vejo afogada e sufocada numa coisa que eu mesma criei.
E quer saber o porque das coisas não serem o que parecem ser? Se nós víssemos de fato, as coisas como elas são, nós não aceitaríamos nem ao menos sair do ventre da nossa mãe.
Será mesmo que algum dia a vida chegará a outro estágio?
Além de mentir, além de fingirmos sermos cegos e surdos... até quando vamos aguentar isso?
Isso de criarmos coisas que nos confortem, que não são mas que nós fazemos com que elas sejam, isso de cair no conformismo, e de na nossa insistencia de querer ter sempre o melhor, ter sempre aquilo que não é nosso: querermos as flores que não são nossas e alcançar as estrelas que não são nossas... sem saber o que nos aguarda quando o fizermos.
Eu tenho medo.
Medo do escuro, medo de uma porta aberta, medo de uma linha torta, medo de um céu nublado, medo de uma cama fria, medo da vida, medo do outro, medo da morte, medo da solidão... medo de viver, medo do medo, medo da loucura.
São medos, insatisfações, insistências, mentiras...
Eu não quero mais nada.
No claro, no escuro, no frio... qualquer coisa em qualquer lugar, acompanhada de um bom e velho café, pra mim está tudo indo.
Já que nada, nunca será do jeito que eu quero que seja. Então vamos levar a vida assim, empurrando com a barriga para um longo e fundo abismo, de cima de uma grande e gelada colina. Vamos chegar lá em cima, ver o quanto aquele ponto de vista é agradável e logo em seguida, cair com todo aquele peso num poço fundo.
Ou será que as coisas não são tão ruins assim?

o tempo passa...

a gente muda, 
o mundo gira, 
a gente fica, e as coisas vão rodando.
rodando, 
suas ideias 
vão amadurecendo 
e tudo aquilo que já foi, 
te transformou no que você é.
pessoas passaram, 
algumas ficaram 
e cada uma com uma 
significativa dentro de você...
saudade faz parte, 
pra mostrar que 
tudo aquilo valeu a pena... 
e a dor no peito continua, 
a vida continua 
e você continua aqui...
"Ando de devagar 
porque já tive pressa, 
e levo esse sorriso 
porque já chorei de mais..."

quinta-feira, novembro 25

in-existência

Eu vejo as minhas mão sujas
e embaixo delas escorrendo 
todas as mentiras que já ouvi.

Luzes piscando
indicando a direção
que devo seguir

E contra toda a correnteza
eu me arrisco
insisto
... desisto.

terça-feira, novembro 23

de dentro dos olhos

A boca mente
o brilho da alma.
E o mundo esconde
o verdadeiro ser.

Quero renascer nas cinzas
das flores que foram pisoteadas
e nem ao menos percebidas

Quero ver o sol
saindo de dentro da lama
coberto de sujeira,
mas que nem por isso deixará de brilhar.

Quero sentir a lua surgindo dentro
de cada um
que ao cair do dia,
libertará vossos medos.

E ver o mundo girar
e tudo mudar
mundar
e continuar...

domingo, novembro 21

Reticências

 (à Joan Miró)

Letras como lágrimas
jorram dos meus olhos.

Elas saem rasgando.
O sal se difundindo
com meu sangue

Minhas veias dançando como o sol
e as minhas pupilas tão dilatadas
que nem se pode mais ver o verde
da constelação ocular que brilhava no meu rosto.

As cores vêem tão ferozmente
como as minhas dores
E parece que tudo se transformou
em letras, que pingam num caderno
De linhas tortas e soltas

E apenas observando aquele infinito azul
me fez ver que tudo gira
e tudo Miro em teus Joan's
que mais parecem meu estúpido
medo de olhar adiante.

quinta-feira, novembro 18

Você nem imagina o quanto eu penso em você.

Então não venha me dizer que te esqueci.

Porque deixar as coisas tão óbvias?

Se quando o Sol brilha
nem ao menos suspira
a quem ele realmente
quer iluminar

Se nem mesmo o céu 
quando chora
Fala de seus motivos

Ou a Lua que
não chega a escolher
o lago que vai se olhar

Se o vento não
consegue encontrar
os ouvidos que ele
vai cantar

E as coisas nunca precisaram
de tanta clareza.
Pois nenhum mundo girou
em torno de nós.

E as nossas vozes sempre serão
mais altas
aonde ninguém possa escutar.

sexta-feira, novembro 12

Rosas são azuis

Palavras. Às vezes são bem mais ocas do que o seu próprio coração.
Eu não me importaria se por apenas um dia ficássemos sem proferir uma palavra. Talvez as coisas teriam mais intensidades, ou fossem mais divertidas... talvez nós não cobrássemos tanto um do outro.
Se soubéssemos ao menos o real sentido de cada letra que exalamos como perfumes, de nossas bocas, o mundo não estaria tão cheio de incertezas, mal entendidos e odores desagradáveis.
Se a entregássemos, como o mais precioso presente, quem sabe a Palavra não teria mais valor?

domingo, novembro 7

migalhas

Sinto tanta falta de tudo, que metade de mim é saudade e a outra é nostalgia.
Se eu te falasse de tudo o que eu sinto saudades seus ouvidos sangrariam de tanto me ouvir.
Meu coração pulsa e eu volto ao passado pra sentir o cheiro e o gosto de tudo o que aconteceu. Eu ouço as mesmas risadas... vejo em câmera lenta aquele teu olhar que me estremece, que me faz sair do chão, misturado com aquele seu beijo que me arrepia dos pés à cabeça. Eu sou capaz de sentir tua voz macia no meu ouvido, teu suspirar nas minhas costas, as tuas lágrimas quentes caindo sobre o meu ombro.
E eu me sinto como o mar. Tão grande e capaz de abraçar à quem ele quiser. E me sinto como o vento que é capaz de beijar as bocas que lhe vier. E eu me sinto como um ímã que só tem conexão com o teu corpo, o teu abraço e o teu beijo.
Eu me sinto tão presa à ti, que metade de mim é amor e a outra é você.

quinta-feira, novembro 4

Eu estufa

Que um gesto seja 
igual a mil palavras. 
Mil palavras bonitas, 
com o brilho que merecem ter.

Eu quero encher o mundo
com palavras plantadas 
e as regar com minhas lágrimas 
para que o sal se transforme
no mais sutil aroma. 

Eu quero entregá-las 
de porta em porta. 
Para que se deliciem
e se encantem.

Eu quero preencher o vazio
com as mais lindas cores 
e soltar dos meus cabelos 
os mais sensíveis cheiros. 

Quero me afogar em tanto querer, 
mas que seja doce
o desejo de morrer 
e continuar vivendo. 

Para espalhar pelo menos
mil palavras plantadas 
em meu próprio jardim,
e crescidas dentro de mim.