Pescar estrelas
No mar vermelho
Onde rosas são cinzas
Os pássaros têm cabeça de polvo
E no fim do horizonte
Existe um pé de morangos azuis
Cortar os pulsos
Mergulhar no céu
Brincar com leões
Ouvir calmamente gritos agoniados
E fazer deles
Canções
Dançar ao som das baleias
Ver no branco do olho da coruja
O brilho da pena de um leopardo
E saltar pelos bosques
Nas costas de um bem-te-vi
Escrever canções
ao contrário
E na cela do canário
Galopar pelos campos de girassóis
E como se já não bastasse
Ao fim do dia
Colher os raios dos Sóis que se foram
E preparar as nuvens em máquinas de algodão-doce
Para receber a rainha Lua.
Brindemos a este belo poema, com outro!
ResponderExcluirDécimo Oitavo Cálice
Quando até a literatura é estrangeira
Na regra dos noves fora mais antiga
É condição redobrada ser a primeira
A contar de quanto trauteio a cantiga
De ficar absorto a soletrá-la pertinaz
Já que o corpo por repouso tudo aceita
Incluindo ler, que só à mente deleita,
Seja a tarde longa e calma ou fugaz
Que sempre voará se no fazer apraz.
Medido o tempo por esta clepsidra
Onde cada segundo é uma frase lida
A pingar da pipeta do entendimento
Tece enredos quem só decepa a Hidra
Lhe sega as cabeças do medo à vida
Tira à serpente gigante o tormento
E lhe dá em troca o jeito sagaz melado
De um S com asas dito voo soletrado
E no sibilo de uma língua enrolado.
A primeira letra de um nome, portanto
Só anda repetido adiante, se avança
Revestido na aliança serena do canto
Em que o compasso é passo e balança
Braço dado fazendo do par a esperança
Deste Alentejo como um lamento cantado
Na sesta amena ao ritmo arado do beijo
Que é outro tanto do canto do S no desejo.
Boca a desenrolar-se é só mandorla da fé
Num zero que a cabala indica, mas que é
O seixo do ábaco se a unidade multiplica
Por dez, por cem, por mil e até o infinito
Estica, dando ao ver o que só se acredita
Existir, sendo esse anel o aro de espírito
Suficiente à matéria como forma de lente
Prà visão num oito alcançar o ponto fito
Que nunca é visto só pelo olhar da gente.
Quem já viu longe e para lá do horizonte
Que a eternidade tem por coisa tão certa
Como uma árvore, colina, rio, ou monte
Habitado por família unida, sã e desperta?
Então, esse sabe até reconhecer a aresta
Que há no distante Sol cuja seta acerta
Raio de alerta e sobre a alma o rio apresta
Ao tempo contínuo, sem fim, sólida ponte!
Uau Alice
ResponderExcluirLindo
Até parece que eu te conheço ao ler este poema
Genial
Gostei muito
QUE ORGULHO. TER UMA POETA NA FAMILIA É BOM. TER DUAS É OTIMO. TER UMA POETA PRECOCE É DIVINAMENTE MARAVILHOSO.
ResponderExcluirTE AMO TECELÃ DE METÁFORAS
TUA MAE PARIDEIRA DE POETA!
"Os pássaros têm cabeça de polvo
ResponderExcluirE no fim do horizonte
Existe um pé de morangos azuis"
caramba Alice, amei estes versos, o potencial imagético que eles proporcionam é muito forte. abraçoes gostei do que li.