barrinhas

quarta-feira, junho 30

sutil como um grito de dor

Pescar estrelas
No mar vermelho
Onde rosas são cinzas
Os pássaros têm cabeça de polvo
E no fim do horizonte
Existe um pé de morangos azuis

Cortar os pulsos
Mergulhar no céu
Brincar com leões
Ouvir calmamente gritos agoniados
E fazer deles
Canções

Dançar ao som das baleias
Ver no branco do olho da coruja
O brilho da pena de um leopardo
E saltar pelos bosques
Nas costas de um bem-te-vi

Escrever canções
ao contrário
E na cela do canário
Galopar pelos campos de girassóis

E como se já não bastasse
Ao fim do dia
Colher os raios dos Sóis que se foram
E preparar as nuvens em máquinas de algodão-doce
Para receber a rainha Lua.

4 comentários:

  1. Brindemos a este belo poema, com outro!

    Décimo Oitavo Cálice

    Quando até a literatura é estrangeira
    Na regra dos noves fora mais antiga
    É condição redobrada ser a primeira
    A contar de quanto trauteio a cantiga
    De ficar absorto a soletrá-la pertinaz
    Já que o corpo por repouso tudo aceita
    Incluindo ler, que só à mente deleita,
    Seja a tarde longa e calma ou fugaz
    Que sempre voará se no fazer apraz.

    Medido o tempo por esta clepsidra
    Onde cada segundo é uma frase lida
    A pingar da pipeta do entendimento
    Tece enredos quem só decepa a Hidra
    Lhe sega as cabeças do medo à vida
    Tira à serpente gigante o tormento
    E lhe dá em troca o jeito sagaz melado
    De um S com asas dito voo soletrado
    E no sibilo de uma língua enrolado.

    A primeira letra de um nome, portanto
    Só anda repetido adiante, se avança
    Revestido na aliança serena do canto
    Em que o compasso é passo e balança
    Braço dado fazendo do par a esperança
    Deste Alentejo como um lamento cantado
    Na sesta amena ao ritmo arado do beijo
    Que é outro tanto do canto do S no desejo.

    Boca a desenrolar-se é só mandorla da fé
    Num zero que a cabala indica, mas que é
    O seixo do ábaco se a unidade multiplica
    Por dez, por cem, por mil e até o infinito
    Estica, dando ao ver o que só se acredita
    Existir, sendo esse anel o aro de espírito
    Suficiente à matéria como forma de lente
    Prà visão num oito alcançar o ponto fito
    Que nunca é visto só pelo olhar da gente.

    Quem já viu longe e para lá do horizonte
    Que a eternidade tem por coisa tão certa
    Como uma árvore, colina, rio, ou monte
    Habitado por família unida, sã e desperta?
    Então, esse sabe até reconhecer a aresta
    Que há no distante Sol cuja seta acerta
    Raio de alerta e sobre a alma o rio apresta
    Ao tempo contínuo, sem fim, sólida ponte!

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  2. Uau Alice
    Lindo
    Até parece que eu te conheço ao ler este poema
    Genial
    Gostei muito

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  3. QUE ORGULHO. TER UMA POETA NA FAMILIA É BOM. TER DUAS É OTIMO. TER UMA POETA PRECOCE É DIVINAMENTE MARAVILHOSO.

    TE AMO TECELÃ DE METÁFORAS

    TUA MAE PARIDEIRA DE POETA!

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  4. "Os pássaros têm cabeça de polvo
    E no fim do horizonte
    Existe um pé de morangos azuis"
    caramba Alice, amei estes versos, o potencial imagético que eles proporcionam é muito forte. abraçoes gostei do que li.

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